dimarts, 9 de març del 2021

Helena, a bibliotecária que amava as letras

As séries e os documentários elaborados no contexto do sucesso do true crime, que viajou com força dos livros para o campo do audiovisual, levantam dúvidas em muitas pessoas. Eu confesso que ao ver que a TV3 anunciava que o programa Crims passaria do rádio aos ecrãs, perguntei-me se o canal procurava audiência a qualquer preço através do sangue e da dor, assim como se esses conteúdos podem acabar por criar receios que enfraqueçam a confiança natural entre as pessoas. Isso sem negar que, caso sejam feitos com rigor e tato, os documentários sobre factos escuros podem nos dar informações interessantes sobre o mundo do direito, a psicologia ou a realidade linguística das sociedades. Em todo caso, os meus preconceitos amoleceram-se ao deparar com que o último dos crimes analisados era o de uma mulher de 27 anos cuja morte não foi ainda esclarecida: Helena Jubany i Lorente (1974-2001), bibliotecária, jornalista e corretora nascida em Mataró (Maresme).

A intrépida Helena, que estava a trabalhar na biblioteca pública de Sentmenat (Vallès Occidental), morreu no final de 2001 após sofrer algumas tentativas de envenenamento acompanhadas de cartas com pretensões supostamente lúdicas, prelúdio de um jogo macabro que acabaria com o corpo sem vida da jovem no pátio de um prédio da cidade de Sabadell. As paixões, a inveja e alguns elementos rituais ou lúdicos empurraram à morte a Helena, vítima de um crime que, se não fosse pela prudência à que obriga a provável autoria plural e o facto de não ter havido julgamento nem sentença, nos dias que correm poderia ser considerado um feminicídio ou, no mínimo, um ato suspeitosamente contíguo. A arriscada aposta (capítulos 1 e 2 de Crims sobre Helena Jubany) de TV3, que com os seus erros e limitações é uma ferramenta vital e capaz de atuar às vezes como algo mais do que uma mera televisão regional, gerou uma onda de solidariedade popular que se traduziu em ajuda económica à família e a obtenção de novas informações sensíveis. A cidadania chegou onde o juiz instrutor não tinha conseguido, aportando novos elementos e criando as condições para a futura vitória do advogado e ex-deputado Benet Salellas: a reabertura das investigações ordenada pelo Tribunal de Primeira Instância número 2 de Sabadell. O caso, arquivado em 2005, encontrava-se às portas da prescrição.

Criados em 2008 pela Associació Helena Jubany i Lorente, os prémios Helena Jubany são uma realidade consolidada em Mataró e resultaram essenciais para manter viva a memória da jovem criadora, cuja vida era inseparável do mundo cultural e da língua catalã. Apaixonada pela leitura e os contos, e com o sonho de virar algum dia uma escritora profissionalizada, as suas primeiras e únicas narrativas foram compiladas na obra Els cristalls de les terres del nord i altres contes, editada em 2004 pela sua família. Com efeito, os prémios que levam o seu nome têm boa saúde: abertos aos textos narrativos curtos e às coleções de contos, o galardão suma 13 edições e o professor valenciano Manuel Roig Abad foi o seu último ganhador, em 2020, com a obra Anserall.

O eventual julgamento do crime, o qual prescreve em dezembro de 2021 (quatro anos mais tarde, em 2025, no caso das duas pessoas vivas imputadas no passado), corre o risco de ser acompanhado e narrado de um jeito mórbido e degradante por alguns meios de comunicação privados espanhóis. No entanto, longe da gritaria, do choro televisado ao vivo e do jornalismo amarelo, o objetivo da família Jubany é claro: poder completar o luto após saber quem, como e porque matou a Helena, a prometedora bibliotecária que amava as letras.

 

(Publicado no Portal Galego da Língua)

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